Apreciações sobre o espetáculo

 

Eu fiquei surpresa ao constatar que o contexto histórico alemão foi realizado de modo tão realista e detalhado. Mas a maior surpresa foi naturalmente a atuação de Esther Góes, mostrando Weigel desde os seus vinte anos... Ela realmente chega a se parecer fisicamente com Helene! A atuação de Esther se parece muito com a atuação de Helene Weigel.

Também é necessário reconhecer os grandes méritos de Ariel Borghi, coautor e encenador de uma peça com um conteúdo nada comum. Acho que nenhum filme dos últimos anos sobre Brecht e Weigel mostrou tão bem a dignidade e humor desses personagens. Eu agradeço aos amigos brasileiros terem reconstruído uma parte importante da história cultural da Alemanha e sua herança para o mundo.

    Sabine Kebir [escritora, biógrafa alemã de Helene Weigel]

 

 

A sobriedade, a intensidade e a análise cuidadosa e corajosa dos fatos que cercam a figura de Helene Weigel, mesmo que importem em desafio às mitificações oficiais, são as marcas desta encenação que Esther Góes nos proporciona, sob a direção segura, dir-se-ia a de um veterano, de seu filho Ariel Borghi, (...) não só com a maestria de quem sabe transitar habilidosamente da pessoa para a personagem, mas também de uma psique, de uma alma, de um    sentimento que pulsam no íntimo desta operação de prestidigitação e transforma os registros no palco da vida nos signos da vida do palco.

    Jacó Guinsburg [escritor]

 

 

A forma do espetáculo, dirigido por Ariel Borghi, é ágil, inteligente e de muito bom gosto. Existe uma projeção de filmes e fotos constante. Um clima de fuga permeia a vida da atriz. Sempre fugindo dos nazistas e dos reacionários em todo o mundo. Nos faz pensar: que crime comete quem faz teatro?

O balanço ético de um espetáculo brechtiano nos coloca a cada momento como juízes de uma vida, a nossa própria. Eu farei, eu não farei. Esta fábula da atriz e mulher, onde me leva? Que tempos foram aqueles, tão iguais ao nosso tempo agora? Não existem mudanças nos estragos que o poder totalitário fazia e faz. É isso que vemos.

(...) É uma emoção verdadeira a que senti a respeito de Helene Weigel. – Deus, como eu queria ter conhecido de perto esta mulher!

    Chico de Assis [dramaturgo]

 

 

Um dos méritos maiores de Esther Góes é esse – a verdade histórica, independente e desmistificada. Quase sozinha em cena, ela levanta a personagem Weigel à exata posição da heroína que começa na humildade da sua cozinha, no anonimato das manifestações de rua, no palco onde não a queriam como atriz, na luta sem tréguas ao pobre “pintor de paredes” que se julgava senhor o mundo (...). O talento e o gênio dramático de Esther Góes são a prova de que Portugal e o Brasil habitam a Grande Pátria comum que é a Língua Portuguesa. Para nós, os deste lado do Atlântico nos desafortunados tempos que correm, a mensagem tem ainda um significado premonitório do teatro, isto é, da palavra em acção: “É preciso começar tudo outra vez. Esperem por nós.”

    Manuel Córrego [escritor e dramaturgo português]