A Intérprete

Preciso falar de Helene Weigel como intérprete!
 
Quando personagem e atriz de tal forma se confundem, que já não é possível
determinar qual das duas está em cena, penso que esse fenômeno arte-vida
está próximo da genialidade.
 
Quando assistimos a atuação de Helene em A Mãe ficamos na dúvida de
quanto Pelageia é a própria Helene. Mas o mesmo ocorre em sua atuação na
Mãe Coragem, sobretudo nas cenas finais: o sofrimento pela guerra parece vir
de sua própria carne, é a atriz num depoimento pessoal e crucial. A Mãe
Coragem no entanto tem absoluta vida própria! O humor rascante e liberto da
viúva Begbick facilmente a identifica, sim, é mesmo Helene em cena. O
murmúrio das canções e dos poemas que interpreta, puro sentimento de afeto
humano, que supera a dor e oferece alívio real ao ouvinte, são de Helene
certamente, que lhes confere o significado da anti-guerra, da recuperação da
alma, que não tem sido ouvida dentro de cada um durante a fúria e a
insanidade do Nazismo.
 
Também na literatura de Virginia Woolf, por exemplo, a escritora e o
personagem estão presentes de tal forma, que as falas dos momentos de
insanidade da própria Virginia em seu diário e as falas do personagem louco de
Mrs. Dalloway são praticamente as mesmas. No entanto, no diário, Virginia é
Virginia, e o personagem louco, no romance, é absolutamente ele mesmo!
 
Parece que a chave de ouro de tais intérpretes é uma só: o quanto elas se
doam sem reservas ao conteúdo e ao perfil de suas criações.
 
 
Esther Góes

Preciso falar de Helene Weigel como intérprete!

 

Quando personagem e atriz de tal forma se confundem, que já não é possível determinar qual das duas está em cena, penso que esse fenômeno arte-vida está próximo da genialidade.

 

Quando assistimos a atuação de Helene em A Mãe ficamos na dúvida de quanto Pelageia é a própria Helene. Mas o mesmo ocorre em sua atuação na Mãe Coragem, sobretudo nas cenas finais: o sofrimento pela guerra parece vir de sua própria carne, é a atriz num depoimento pessoal e crucial. A Mãe Coragem no entanto tem absoluta vida própria! O humor rascante e liberto da viúva Begbick facilmente a identifica, sim, é mesmo Helene em cena. O murmúrio das canções e dos poemas que interpreta, puro sentimento de afeto humano, que supera a dor e oferece alívio real ao ouvinte, são de Helene certamente, que lhes confere o significado da anti-guerra, da recuperação da alma, que não tem sido ouvida dentro de cada um durante a fúria e a insanidade do Nazismo.

 

Também na literatura de Virginia Woolf, por exemplo, a escritora e o personagem estão presentes de tal forma, que as falas dos momentos de insanidade da própria Virginia em seu diário e as falas do personagem louco de Mrs. Dalloway são praticamente as mesmas. No entanto, no diário, Virginia é Virginia, e o personagem louco, no romance, é absolutamente ele mesmo!

 

Parece que a chave de ouro de tais intérpretes é uma só: o quanto elas se doam sem reservas ao conteúdo e ao perfil de suas criações.

 

 

Esther Góes

 

"A Mãe Coragem"

 

Camarim 

 

"Coriolano"