Determinadas Pessoas - Weigel
Pesquisa realizada para a montagem do monólogo "Determinadas Pessoas - Weigel", apresentado por Esther Góes e dirigido por Ariel Borghi, estreado em 2007 e remontado em 2024, sendo sua quarta temporada.
Escolhemos disponibilizar a pesquisa para o público a fim de contribuir com o legado desta grande atriz.
Como a pesquisa é muito extensa, aos poucos incluiremos mais informações aqui.
Por que Helene Weigel?
Ouço falar dela desde os anos sessenta. Naquele momento, no Brasil, a juventude, e sobretudo os artistas de teatro, nos apossávamos de Brecht para protestar contra a miséria social e contra o regime de opressão que se instalou a partir daquele protesto. Fiz Galileu, O que mantém um homem vivo?, Mahagonny. Helene Weigel já aparecia como a grande atriz do mundo no pós- guerra, criadora da inesquecível Mãe Coragem.
A relação dela com Brecht surgiu em meio aos primeiros pequenos papéis e as manifestações de rua, na trincheira ideológica que era a cultura, naquela Alemanha dos anos 20, dividida entre o nazismo, o socialismo, o comunismo, a aristocracia, a burguesia... Helene se ofereceu à intenção de Bertold Brecht de revolucionar a arte cênica. Em A Mãe, sua interpretação já surge transformada, enxuta, em raciocínio permanente com a plateia. O compromisso do casal com o teatro épico será irreversível. A morte de Brecht colocou-a diante de ainda maiores dificuldades. O mundo lhe deve ter conseguido, correndo perigos bastante concretos, passar a obra de Brecht, integral, para Berlim Ocidental, onde foi publicada sem cortes.
Helene não pode ser esquecida, é uma referência inesgotável. Queremos trazê-la a você, que “com certeza, não rouba ninguém”. É sua.
Esther Góes, atriz e autora da dramaturgia
Helene é um personagem político do seu tempo, fez parte dele como artista, uma das maiores, e como uma fervorosa combatente socialista. Foi o tempo em que surgiu o cinema, instrumento poderoso logo usado pela propaganda nazista. Ficou claro para mim que ela teria que contracenar com o seu século, e que justamente a tela de cinema poderia representar esse conteúdo. Então a concepção do espetáculo ficou assim: o palco nu, estruturas à mostra, representa a luta de Helene e Brecht, através do teatro, contra a burguesia, o Nazismo e a decadência do regime da RDA, na Alemanha do pós-guerra, realidades que são representadas e documentadas pelo cinema.
A pergunta fundamental de Helene: o que fazer para sair desta miséria? é um tema universal. Fizemos a peça para o mundo, não para nós. Para determinadas pessoas.
Como ator, encenei Galileu e Baal, e me senti recompensado por poder retribuir a Helene e Brecht a visão humanista do mundo que eles me propiciaram.
Ariel Borghi, diretor e autor da dramaturgia